Era um jogo da minha meninice - será que ainda brincam assim? Os olhos tapados com um pano, as mãos tateantes. Os sustos. Os gritos. Tiro o pano dos olhos e me vejo de corpo inteiro. Tão nítido esse corpo que conheco tão mal, como ele me escapa! Principalmente na doença, quando não sei o que fazer com ele - mas que corpo é esse? Como posso entendê-lo se não tenho a menor ideia do que se passa lá por dentro? Vou de cabra-cega, às apalpadas, tateante, o que em mim é realidade e o que é aparência? Corro até minha imagem e toco apenas no espelho.
*texto extraído do livro Disciplina do Amor, de Lygia Fagundes Telles
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